sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Moral Divina



Moral: convicção íntima ou coletiva, que atribui valores positivos ou negativos a determinadas condutas e pensamentos humanos.

Há quem diga que nossa moral provém de algum tipo de divindade, da Bíblia, ou, pelo menos, que se não existe alguém ou algo para nos vigiar e julgar a todo momento, seríamos selvagens assassinos egocêntricos sem moral alguma. Há quem diga também que o medo do inferno e o desejo do céu é o freio para o ego.
Mas será que isso é mesmo verdade? Será que, se não fosse pelo medo de um castigo eterno, seríamos assim tão maus? Será que todos os ateus bons são exceções, ou todos eles seguem a moral porque temem, inconscientemente, o inferno?
Bem, pra começar, Deus (me refiro exclusivamente ao deus judaico-cristão) e principalmente a Bíblia, estão longe de ser exemplos de moralidade para os dias de hoje, por um motivo óbvio, foi escrita há muito tempo atrás. É normal que um livro escrito na época que a escravidão era aceitável e rentável, faça apologia a escravidão. É normal que um livro escrito por homens ignorantes em diversos sentidos seja machista e homofóbico. Mas não é normal que esses valores sejam admitidos no mundo em que vivemos hoje, que um livro que faça apologia ao sacrifício (tanto animal quanto humano), à escravidão, ao machismo, à homofobia, às guerras e diversas outras coisas que consideramos hoje imorais, seja simplesmente adotado por pessoas que se consideram boas.
Eu sei que a grande maioria dos cristãos, até mesmo os mais fanáticos, não defende todas as “leis” mais absurdas da Bíblia, como apedrejar pessoas, sacrificar crianças inocentes, torturar, guerrear, matar, etc., apenas as partes “aceitáveis”, mas, se temos que usar nossos próprios princípios para selecionar as partes boas das tais leis divinas, então nossa moral não vem da Bíblia, mas de dentro de nós. Nós já sabemos o que é certo e o que é errado, a única diferença é que, a Bíblia, nos promete uma punição severa, e, por medo, muitas pessoas escolhem o “caminho da luz”.
Mas, seguindo essa linha de raciocínio, deveríamos ver por aí ateus (pessoas que não tem medo do inferno) cometendo todo o tipo de atrocidades justificadas com a impunição eterna.. Por que isso não ocorre?
Porque, definitivamente, não é o medo que faz com que nos comportemos bem. Talvez a ciência não possa explicar a vontade de fazer o bem em nossos corações, a satisfação que o amor, a amizade, o altruísmo, ... nos trazem. Mas sabemos que elas não provém do medo ou da ganância, até porque se viessem, não teriam valor algum.

“Se somos bons apenas por temermos o castigo e almejarmos uma recompensa, então somos seres realmente detestáveis” Albert Einstein.

E as pessoas más que têm em sua religião um freio para seus instintos destrutivos? 
Em um mundo sem religião, essas pessoas teriam que achar outro freio, possivelmente mais verdadeiro e sólido do que uma religião. E além disso, a religião de maneira geral não diminui a criminalidade. Posso afirmar que tudo o que a religião inspira de bom, é “apagado” pelo que ela provoca de ruim. E não falo só da inércia mental, mas das coisas ruins que a religião provocou e provoca até hoje em nossa sociedade.
Não posso negar que a religião é algo bom para algumas pessoas, mas posso afirmar que para cada ato bom inspirado pela religião em uma pessoa ruim, temos, pelo menos, um ato ruim inspirado em uma pessoa boa. 

 “Com ou sem religião teremos sempre boas pessoas fazendo coisas boas e más pessoas fazendo coisas más. Mas para termos boas pessoas fazendo coisas más, para isso é preciso uma religião” Steven Weinberg

Mas então, de onde vêm os sentimentos bons? Quais as regras éticas e morais que devemos seguir, e por quê?
Essas são questões que intrigam filósofos, antropólogos e sociólogos desde o início das civilizações. No seu livro “Bilhões e Bilhões”, Carl Sagan dedica um capítulo, “As regras do jogo”, a esse assunto, e nele, Carl cita algumas “regras”, que podemos escolher seguir.

Regra de ouro: Faça aos outros aquilo que você gostaria que fizessem a você.
Regra de Prata: Não faça aos outros aquilo que você não quer que façam a você.
Regra de Bronze: Faça aos outros o que te fazem.
Regra de Ferro: Faça aos outros o que quiseres, antes que façam o mesmo com você.

Claro que nenhuma dessas regras é capaz de resumir um código de ética, mas, é inegável que o mundo chegaria muito próximo da perfeição se todo seguissem a regra de ouro ou, pelo menos, a de prata. Até mesmo a de bronze é aceitável. O grande problema é que a grande maioria das pessoas segue algo parecido com a regra de ferro, literalmente “ferrando” com as pessoas que seguem as regras de ouro, prata e bronze.
De qualquer forma, sabemos o que é certo e o que é errado, mesmo sem ler em nenhum livro sagrado, e, na grande maioria das vezes, fazemos o que é certo, independentemente de haver ou não alguém nos vigiando. Portanto, a religião não torna o mundo melhor, nós tornamos. E é claro que eu devo ressaltar também que, mesmo que isso fosse verdade, e nossos conceitos morais fossem retirados da Bíblia, isso não significaria que ela é verdadeira. 

Separei pra vocês alguns trechos da Bíblia que mostram que ela definitivamente não pode ser tomada como “verdade absoluta” e nem como exemplo de moral:

“Se alguém ferir com pau seu escravo e o indivíduo morrer em sua mão, será punido, porém, se ele sobreviver por um ou dois dias, não será punido, porque é propriedade sua” (Êxodo 21:20,21)

“Seis dias se trabalhará, mas o sétimo dia será o sábado de descanso solene, santo ao Senhor; qualquer que no dia de sábado fizer algum trabalho, deve ser morto” (Êxodo 31:15)

“Levarás a tua porta quem tiver cometido esta maldade [crer em outros deuses], e o apredejarás até a morte” (Deuteronômios 17:2,7)

“Ferirás ao fio da espada os moradores daquela cidade, destruindo a ela e a tudo o que nela houver, até os animais. E ajuntarás todo o despojo no meio da sua praça; e a cidade e todo o seu despojo queimarás totalmente para o Senhor teu Deus.” (Deuteronômios 13:13,19)

“E aquele que blasfemar o nome do Senhor deve ser morto, toda a congregação deve apedrejá-lo” (Levitico 24:16)

“Qualquer um que amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, deve ser morto” (Levitico 20:9)

“O homem que adulterar com a mulher de outro, deve ser morto, tanto o adúltero, quanto a adúltera” (Levitico 20:10)

“Se um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos terão praticado abominação, devem ser mortos” (Levitico 20:10)

“Se teu olho te fizer pecar, arranca-o, e lança-o de ti. É melhor entrar na vida com um só olho, do que tendo dois olhos, ser lançado no fogo do inferno” (Mateus 18:9)

         “As mulheres tem de ser submissas aos seus maridos” (I Pedro 3:1)

         “Se uma mulher é dada como esposa a um homem e este descobre que ela não é virgem, então será levada para a casa de seu pai e a apedrejarão até a morte” (Deuteronômios 22:20,21)

        “E suas crianças serão despedaçadas perante os seus olhos, e suas casas serão saqueadas e suas mulheres violentadas” (Isaías 13:16)

        “Agora pois, matar todo homem entre as crianças, e matai toda a mulher que conheceu algum homem, deitando-se com ele. Porém, todas as meninas que não conheceram nenhum homem, deixa-as viver para vós” (Números 31:17,18)

       “E aconteceu, à meia noite, que o Senhor feriu a todos os primogênitos, desde o primogênito do Faraó, que se sentava em seu trono, até o primogênito do cativo que estava no cárcere, e todos os primogênitos dos animais” (Êxodo 12:29)

      “E destruiu aquelas cidades e toda aquela campina, e todos os moradores daquelas cidades [Sodoma e Gomorra], e o que nascia da terra. E a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal” [Genesis 19:25,26)

      “E disse o Senhor: destruirei o homem que criei sobre a Terra, desde o homem até o animal, até ao réptil, até as aves do céu, porque me arrependo de os haver feito” (Genesis 6:7)

Nenhum comentário:

Postar um comentário